Os topónimos de Balasar têm naturalmente origens muito diversas, desde
actividades religiosas (Calvário, Cruz, Outeiro, Vinha do Abade,
Campo da Oliveira de S. Salvador), antropónimos (Balasar,
Gresufes, Gestrins, Telo), particularidades geológicas ou
geográficas (Lousadelo, Fontela, Fontainhas, Vau, Montilhão, Terra Ruim, Monte Tapado, Alto de Serra, Alto
de Trás da Serra, Monte de Lobos, Monte Longo, Vale de Areia, Vale Grande,
Bouça do Seixo, etc.) a razões vagamente relativas à
flora (Matinho, Gandra, Bouça-Velha, Campo do Trovisco,
Campo da Oliveira), etc.
Nas Inquirições de 1258, ao delimitar
Gestrim, assinala-se “a mamoa (mamonam)
de Godim” (1); o Tombo de 1542 e o Tombo da Comenda também conhecem esta mamoa, mesmo não lhe
chamando já “de Godim”: ficava nos limites da freguesia com Macieira de Rates e é hoje desconhecida mesmo na tradição local.
Mas o Tombo de 1542 ainda identifica outra mamoa, nos limites de Vicente com
Gresufes.
Uma mamoa é um monumento megalítico que pode
remeter para o terceiro milénio antes de Cristo.
Há um lugar balasarense chamado Outeiro (2);
mas houve ainda o Outeiro da Mamoa (Tombo da Comenda) e o Outeiro de Revelhe; e fala-se
ainda do Outeiro de Paim, do Outeiro Redondo, da Chã do Outeiro, da Bouça do
Outeiro.
Este vocábulo outeiro tem como última
origem a palavra altar, provavelmente através duma forma adjectiva. Podemos
supor que a evolução terá seguido este caminho: altare > altariu > autario > outerio > outeiro. Ele
designa um muito antigo lugar de culto – uma colina – dos tempos pagãos. Envia
assim também para alguns séculos de antes da nossa era.
Por um mapa da Balasar antiga
Outras
observações de toponímia
Na sequência do que ficou dito sobre as
mamoas e os outeiros, vamos tentar desbravar a origem
dos topónimos Gresufes e Lousadelo.
Ao tempo dos mais antigos documentos
escritos sobre a freguesia, na área da actual Balasar havia duas paróquias, S.
Salvador de Gresufes e Santa Eulália; esta foi primeiro de Lousadelo (3) e
depois de Balasar.
Gresufes significa filho de Gresulfo (como Henriques - D. Afonso Henriques, por
exemplo - designa o filho de Henrique).
O nome Gresulfo surge na “Kartula de
Villa Comitis, in Ripa Maris” ou Escritura de Vila do Conde, do ano de 953
(onde ocorre também o célebre nome Villa
Euracini). No Censual do Bispo D. Pedro (4),
de cerca de 1080, escreveu-se Gresulfi,
aparecendo mais tarde as formas Grisuffi
e Gresufe, todas sem o s final. Um pároco do século XVII ainda
escrevia Gresufe.
O primitivo nome de Balasar, já se
disse, foi “Santa Eulália de Lousadelo”. Era assim que vinha no
Censual. Lousadelo apontava para uma característica geológica notável do lugar,
a da abundância de lousas ou xistos. O sufixo elo é diminutivo.
Mais
topónimos
Um topónimo quase sempre levanta duas
questões, uma de etimologia, sobre a origem da palavra, e outra de história,
sobre como é que essa palavra se tornou nome de tal lugar. Colocam-se a seguir
breves anotações respeitantes a alguns topónimos da freguesia.
Agra
-
Os documentos dão conta de várias agras em Balasar, divididas nas respectivas
leiras: Agra do Casal, Agra dos Feijões, Agra
da Fonte, Agra de Pedro, Agra de Revelhe e Agra de Vila. Este nome remete para uma
forma antiquíssima de propriedade rural. As agras ficavam em “áreas baixas e
irrigadas, propícias ao cultivo do cereal e em especial do milho miúdo”.
Agrelos
–
Como agra, Agrelos tem origem no vocábulo latina ager, que significa campo.
Aguiar – Palavra que
ocorre na expressão Seixos de Aguiar e que deriva de águia.
Além – Além é um advérbio que ocorre frequentemente
como topónimo. Não é fácil determinar o ponto em relação ao qual o topónimo
balasarense se diz além. Seria
Gresufes? Seria o rio? Seria Fiães? Talvez além significasse depois
da igreja, se ela ficasse a meio caminho entre o espaço mais habitado de
Gresufes e o lugar com o nome de Além.
Belibosa
– No
século XIX esta palavra ocorre como apelido de homem e como topónimo do lugar
de Gestrins.
Bouça-Velha – Diz-se velha,
neste caso, por oposição a nova. Se as bouças novas fossem terrenos de lavradio
que regressaram a bravo, então as velhas seriam as que sempre permaneceram
bouça.
Casal – Ao longo do tempo a palavra casal adquiriu
significados muito variados. Neste caso aponta sem dúvida para uma área
agrícola relativamente limitada.
Calvário – O P.e Leopoldino explicou que a origem deste topónimo está
numas cruzes que aí houve a assinalar estações da Via-Sacra. Já ocorre no séc.
XVIII.
Chã
do Painho
– Nesta expressão, a palavra chã é um substantivo e significa planura; painho é
nome de um pequeno pássaro. Houve também o Outeiro do Painho e provavelmente o
Vale do Painho.
Covilhã – Na origem desta palavra poderia estar a
palavra cova; o resto seriam sufixos.
Nas Inquirições contudo encontra-se a forma Convilhana.
Cubo
–
Várias actas da Câmara Municipal falam do Muinho
do Cubo, para referir uma ponte sobre aquele ribeiro que divide as Fontainhas deste
lugar. Também escrevem Munho, que é
variante popular de moinho.
Escariz – De Ascaricis,
patronímico de Ascaricus, antigo nome
de homem. Em 1343, registou-se a forma Ascariz.
Este
– Os
documentos antigos chamam este rio, que cruza Balasar, rio Deste; nos
documentos medievasi em latim, chamam-lhe Alister
ou Aliste.
Eulália – A padroeira
de Balasar é a jovem santa de Mérida. Como noutros
lugares, também em documentos relativos a esta freguesia o seu nome se encontra
sob a forma de Ovaia e Olaia. Etimologicamente, Eulália significa bem-falante.
Fareleiro
–
Para este topónimo, há as formas Fareleiro e Faroleiro. Suspeitamos que
correspondem à palavra Faleiro das Inquirições de 1343.
Felgueira
–
O mesmo que felga.
Fojo
do Lobo –
Fojo é uma cova.
Fontainhas – Deriva de fontana (fonte); é forma diminutiva. Nas ocorrências mais antigas,
a palavra surge sempre no singular e até no masculino. De notar que em Arcos se conhece o topónimo Fontão, forma
aumentativa.
Fontela – Outro diminutivo originado de fonte.
Gandra – Designa uma
terra agricolamente pobre, com uma flora rasteira, o que um documento antigo
parece confirmar em Balasar. É palavra que ocorre
frequentemente como topónimo.
Gestrins – O vocábulo Gestrins parece ter uma formação
paralela à de Martins, que se origina de Martim, que por sua vez vem de
Martinho. Haveria então na origem um Gestrinus
ou talvez Agistrinus (Gestrinho); ao
seu filho chamar-se-ia Gestrim e ao
neto Gestrins. Das várias formas medievais desta palavra a mais comum é Agistrim. Desconhece-se quem tenha sido
tal Agistrinus.
Na Idade Média, havia Gestrim de Cima e
Gestrim de Baixo e havia seis casais de Gestrim. Sendo assim, Gestrins pode também ser um plural. No séc. XVII, o
reitor João da Silva escrevia Gestrim.
Granja – Embora seja
palavra que na actualidade não tem aplicação toponímica em Balasar, as Inquirições
conheciam duas granjas, uma das quais correspondia à Casa da Gandra.
Guardes e Guardinhos – O étimo destas palavras é cardo.
De facto, o nome original seria talvez Gardes e Gardinhos, como ainda escrevia
um pároco no séc. XVII. Em 1343, escreveu-se Grades. A forma mais antiga
conhecida de Guardes é Gardas e de
Guardinhos Guardias (Guardinhas). A
“póvoa de Gardes”, de 1343, pode ter resultado da iniciativa do juiz de Faria.
Matinho – É um diminutivo derivado de mato.
Monte
do Xisto –
Na freguesia contam-se vários montes. Balasar é terra de xisto.
Monte
de Lobos – Monte
de Lobos não fica muito longe dos Seixos de Aguiar, dois topónimos que enviam
para tempos muito antigos, pois ainda recordam lobos e águias.
Pedra
Negra ou
Pedra do Couto – Marco que divide Balasar de Rates e Arcos. Quando se
dizia Pedra do Couto, entendia-se do Couto de Rates. Houve mais pedras negras e
até um Penedo Branco.
Remestilha
– Esta
palavra, que originalmente devia ser alcunha feminina,
ocorre no século XIX como topónimo na saída de Vila Pouca para Gresufes.
Revelhe
– Conhecem-se
pelo menos o Outeiro de Revelhe e a Agra de Revelhe.
Serra
da Covilhã, Serra das Pedreiras, Trás da Serra – Como em Rates,
onde se fala da Serra de Rates, que não passa dum pequeno monte, também em
Balasar a palavra ocorre com este significado.
Seixo
Branco – Em
terra de xisto, impressionava as pessoas que nele houvessse incrustações de
pedra branca (quartzo?) Estes seixos brancos aparecem como marcos.
Telo – Deriva de tellus (terra) e tem a mesma origem que o apelido Teles. Embora no
séc. XVIII o Telo já fosse muito povoado, não há ocorrências medievais do nome
dele.
Terra
Ruim – “Antítese de Terra Boa”. Na área de terreno
que a sul de Terra Ruim há o monte de Lobos e o fojo; para norte identifica-se
o caminho do lobo. Nas “medições” dos antigos documentos fala-se de “ruim
terra” para significar terra pouco produtiva.
Tinta
– Antigo
lugar de Gresufes, devia ficar muito próximo da igreja paroquial.
Traquinada
– Este
nome Traquinada ocorre num assento paroquial como apelido dum homem.
Trás-da-Serra – A sul da Terra
Ruim há o Monte das Pedreiras; mais a sudoeste ainda, fica Trás-da-Serra. A palavra serra ocorre na zona integrada em nomes de campos (Campos-Serra).
Vale
Grande –
Como a acidentada parte da freguesia a sul desce em direcção ao rio, é natural
que aí se encontrem vales, uns maiores outros menores. Vale Grande fica a
sudeste e acaba em Gresufes. Há ainda os vales da Areia, da Tia, do Maiato, de
Flores e Preto.
Vau – Vau
diz-se do lugar do rio onde, ao menos em certos períodos do ano, se pode fazer
a travessia a pé, sem necessidade de barco. Os documentos antigos identificam ao
menos três vaus em Balasar.
Vila
Nova
– Vila Nova dever-se-ia dizer por relação a Vila Pouca, que seria anterior.
Vila
Pouca – vila
(vila rústica) designava uma grande quinta; pouca,
por sinal, deve significar pequena.
Mas como esta pequenez se diz por relação a uma área muito grande, também a
Vila Pouca ocuparia uma superfície agrícola não desprezável.
Nos documentos ocorrem vários topónimos
que entretanto se perderam, mas muitos que se mantêm: monte do Arroio, monte Longo, Alto de
Trás da Serra, Campo da Lagoa, Campo do Cotorno, Campo da Revolta, Campo da
Água, Campo do Trovisco, Campo da Oliveira de S. Salvador, Vinha da Porta,
Vinha do Abade, Bouça Alegre, Bouças-Velhas do Fojo, Bouça do Sobrado, Bouças
da Tripa do Meio, Bouça da Gracia, Bouça do Vale, Leiras Longas, Leira das
Penas, Leira da Revolta, Leira da Senra, Leira do Fareleiro, Leira de S. Pedro,
Leiras dos Cortelhos, Ribeiro de S. Salvador, Paniçais, Troitomiro, Currial,
Curucânio, Artal Meão, Faleiro, as Quebradas, Cangosta de Cavaleiros, o lugar da Porta, sítio do Trovisco, Souto
etc.
Na Espanha
existe um rio Aliste.
Lugares
Não sabemos hoje bem quais os lugares
que pertenciam à paróquia de Gresufes e quais os que então pertenciam à de
Balasar, mas podemos imaginar que a Gresufes se juntassem Além, Vila Pouca,
Vila Nova e Outeiro. A Balasar pertenciam Escariz, Matinho, Lousadelo, Casal,
Gestrins, Telo, Guardes e Guardinhos.
As Memórias Paroquiais de 1758
apresentam uma lista deles que já está próxima do que é a realidade actual. São
treze, “a saber: Gandra, e este tem oito fogos; Gresufes, tem dezasseis fogos; Vila Nova, tem nove fogos; Além, nove fogos; Vila Pouca, quinze fogos; Escariz, nove fogos; Igreja, oito fogos;
Pousadela, dezoito fogos; Casal, trinta e dois fogos; Telo, vinte e seis fogos; Gestrim, cinco fogos; Guardes, três fogos; Guardinhos, cinco fogos”.
Pousadela há-de ser Lousadelo. É com a
forma Lousadelo que o P.e António da Silva e Sousa escreve sempre a palavra nos
assentos paroquiais.
É normal que alguns lugares se extingam
(Tinta, Boucinhas, Azenhas), que outros surjam (caso por exemplo da Cruz,
Calvário, Fontainhas). Em Balasar, parece que ocorreram casos de desdobramento,
isto é, onde noutros tempos havia apenas um lugar hoje conhecem-se dois ou
mais. Será este o caso do Casal, que incluiria alguns lugares actuais vizinhos.
Povoamento
e novos lugares
Nas Inquirições é referida a criação de
casais e as dificuldades que os novos moradores enfrentavam frente às
malfeitorias dos mordomos. Fala-se até duma póvoa, um novo povoamento junto a
Guardes.
Parece que o primerio passo para povoar
uma área erma era verificar a existência de fontes. De facto, em tempo em que
não havia poços, elas eram indispensáveis e é comum encontrá-las próximo das
casas mais antigas duma freguesia.
O P.e Leopoldino assinala 24 lugares em Balasar, incluindo neste número a Tinta.
Um desdobrável da Junta conta
23: seis a norte do Este: Fontainhas, Gestrins, Guardinhos, Quinta, Telo e Vau;
dez a sul, mas a poente da estrada que vai da Igreja para Fradelos: Bela, Bouça
Velha, Calvário, Caminho Largo, Casal, Cruz, Fontela, Lousadelo, Monte Tapado e
Terra Ruim; e seis a nascente da mesma estrada: Além, Escariz, Gandra,
Gresufes, Matinho, Outeiro e Vila Pouca.
Ignora Guardes, a Covilhã, Agrelos e
Vila Nova.
Gestrins, que é hoje um lugar muito
povoado, entre o tempo das Inquirições e das Memórias Paroquiais, que foram 500
anos, manteve o mesmo número de fogos. Quase a mesma coisa sucedeu em Guardes
(que aliás ainda hoje não tem mais casas que nesses tempos distantes).
Marcos
De acordo com o estudo de Eduarda Maria
Silva e Maria Rosa Mateus Inventário
Epigráfico dos Marcos e Divisórias do Concelho da Póvoa de Varzim, Balasar não possui marcos delimitadores. Mas há marcos
de outras freguesias, bem como alguns da Casa de Bragança, que ajudam a
estabelecer essa delimitação. Parece-nos todavia que há algumas
observações a fazer relativamente ao Inventário destas autoras.
No Tombo da Comenda, a delimitação de
Balasar começa no Monte dos Lobos e aí naturalmente termina. Não se vê porquê,
pois parece que seria normal que começasse e acabasse num espaço habitado; ora
ali é o centro duma vasta zona erma (9).
As autoras do Inventário afirmam que
havia lá um marco que assinalava o ponto de encontro de três concelhos, Póvoa
de Varzim (através de Balasar), Vila do Conde (através do Outeiro Maior) e Vila
Nova de Famalicão (através de Fradelos), mas que desaparecera.
Actualmente, esse marco foi reposto no seu lugar. Segundo a nossa leitura, a
inscrição que ostenta diz o seguinte:
S.MDO
OUTEIRO
CDVC
1857
Depois de se desenvolverem as
abreviaturas, ficará: “S. Martinho do Outeiro, Concelho de Vila do Conde, 1857”.
É portanto um marco relativamente
recente, posterior à reorganização administrativa liberal e às mudanças de
concelho que Balasar e o Outeiro Maior sofreram.
As autoras citadas reconheceram-se
incapazes de interpretar as duas letras dum outro marco que, segundo dizem,
assinala, em Trás-da-Serra, a extrema de S. Martinho do
Outeiro (ou antes, Outeiro Maior) com Balasar. Aqueles dois SS ao cimo
significam muito provavelmente S. Simão (da Junqueira), a que pertenceu a
freguesia do Outeiro Maior (e também a de Arcos).
O marco poderia limitar apenas
propriedades do mosteiro em Balasar.
Trata-se de um marco antigo. Em 1680,
ainda o Mosteiro da Junqueira estava activo e como tal continuou, como o
demonstra a rica igreja dele que chegou até nós. Não era o caso de 1807, mas
havia então naturalmente um senhorio que reivindicava os direitos respectivos (10).
Os marcos da Casa de Bragança que o Inventário identificou nas Fontainhas conservam memória do antigo reguengo de Agistrim e secundariamente do Couto de Rates. Abaixo do brasão, está o costumado B
(de Bragança).
Um outro marco também interessante é o
que as autoras do Inventário chamaram de Montilhões, já que este topónimo (sob a
forma Montilhão) ocorre no tombo e identifica o limite de Balasar com Fiães, uma área sensível na Idade
Média, pois ficava ali ao lado de Gestrins. Há um marco semelhante na
Quinta da Covilhã.
Mas o marco mais importante é o que indica o ponto de encontro de Balasar, Rates e Arcos. Cremos que é um menir, que está ali desde época das mamoas e que teve função delimitadora desde o tempo dos romanos. Durante muito tempo chamaram-lhe Pedra Negra (designação que se usou em Balasar para outras pedras).