sexta-feira, 25 de março de 2011

AS INQUIRIÇÕES DE 1343


Entre 1258 e 1343 nem um século medeia; todavia o texto das inquirições desta última data é muito diferente do anterior – desde logo porque se encontra em português (1), mas num português muito arcaico. O nome da freguesia escreveu-se “Santa Oouvaya de Belsar”.
Transcreve-se delas apenas o que pode dar informações sobre os bens do Rei ou indicações de interesse toponímico. Actualizámos a escrita.

[…] há aí seis casais povoados e lavrados, e do casal de Agistrim dão a El-Rei […]
Dois casais, um que mora Martim Domingues e outro que mora Simão Joanes […] dão deles a El-Rei cada ano o quarto do fruto da Pedra Negra até à estrada que vai para Braga […]. Do casal em que mora Martim Domingues devem dar quarta parte do terreno que chamam o Faleiro e da Roteia que parte por Paio Macieira e pelo monte do Arroio. […]
Outro Casal de Agistrim […]
Outro Casal de Agistrim […]
Outro Casal de Agistrim que traz Pêro Domingues e sua mulher e que eles moram como parte pela ponte de Curucânio como vai ao Artal Meão e daí a monte Faão como vai à ponte de Grades e daí ao Codesselho e como vai pela laje do carvalho como vai ferir no monte do Arroto assim como parte pela leira do casal em que agora mora Pêro Martins e dão a quarta parte dos frutos que Deus aí der da Pedra Negra até selada (estrada?) que vai para Braga […]
Uma Póvoa de Grades, que são três casais […] Se aí fizeram igreja, ser El-Rei padroeiro e receber mordomo […].
Outra carta em que são emprazadas as Quebradas que jazem na Várzea, assim como está contido na dita carta. […]
Outra carta por que El-Rei há-de haver cada ano dois maravedis velhos e 20 ovos por razão de dois moinhos que tem emprazados.
Doutro moinho de Grades dão a El-Rei três maravedis. […]
E do lugar que chamam a Porta fizeram serviço a El-Rei.
Diz no registo velho que dão um meio maravedi dum casal de S. Pedro de Rates que há em Agistrim.
Disseram que há aí Santa Ovaya de Rio Covo três casais, e dão 32 soldos.
Lousadelo, dois casais de Mondim e em Escariz outro. E dão destes três casais 12 soldos e cada um uma galinha.

A atenção dos inquiridores concentra-se, parece, ainda mais em Gestrins (a que continuam a chamar Agistrim, como em 1258) e um pouco em Guardes. A sul do rio são assinalados casais de senhorio religioso.
Mas surgem vários topónimos que não se conheciam antes e há alguns antigos que não são mencionados. Entre os novos, registam-se: o Faleiro (terreno), monte do Arroio, ponte de Curucânio, Artal Meão, monte Faão, Codesselho, monte do Arroto, ponte de Guardes (aliás, de Grades), as Quebradas, a Póvoa de Guardes, a Porta (lugar) e Escariz (Ascariz). Entre os que não são mencionados, está a mamoa, Covilhã, etc.
É referida «a estrada que vai para Braga», sem dúvida a que justificava a Pousa Real.
Em Guardes assinalavam-se três moinhos, que se não deverão identificar com os que vêm nos documentos do Mosteiro da Junqueira.
Algumas curiosidades: continua a falar-se da Pedra Negra; continua a não ser conhecido o lugar do Telo; também se não adivinha nada que pudesse vir a ser a Quinta de D. Benta.
É ainda curioso que seja aventada a hipótese de se construir uma igreja na Póvoa de Guardes (“se aí fizerem igreja”).
De S. Salvador de Gresufes, os jurados de 1343 apenas repetiram que o Rei não possuía lá qualquer reguengo: “nom auya El Rei Regueengo na dicta freeguesya”. Ela continuaria então a pertencer aos Correias de Fralães.

[1] O texto desta inquirição vem no Boletim Cultural Póvoa de Varzim, sem menção da pessoa responsável pela sua publicação, apenas com o título de  As Inquirições de 1343, no vol. II, nº 2, 1959, páginas 220-232.

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